Um calendário paralelo rege o mercado automotivo. Se no passado o ano-modelo de um carro era lançado de agosto a outubro do ano anterior, agora chega às revendas em janeiro ou fevereiro - como vimos ocorrer com Chevrolet Celta e Fiat Uno em 2011, por exemplo. Na VW, o tempo também corre de maneira diferente.
No começo do ano, a montadora já oferecia a linha 2013 de Gol e Voyage. Francisco Paiva Neto, aproveitou a renovação antecipada e comprou um Gol G5 2013 em abril. Ele foi pego desprevenido na última terça-feira (17/6), quando viu a informação de que a Volks lançava Gol e Voyage 2013 reestilizados. "Me sinto lesado, enganado pela montadora", diz o tecnólogo em gestão pública, de 46 anos, que vive em Natal (RN). Se soubesse da mudança, ele não teria comprado o hatch. "Eu queria um Novo Palio. Só que não havia para pronta entrega, ia receber o veículo depois de 30 a 40 dias. Por isso optei pelo Gol", explica.
A estratégia da VW ficou, mesmo, confusa. Já até nos acostumamos a ver a linha do ano seguinte à venda no começo do ano corrente. Mas dessa vez a VW caprichou e fez isso duas vezes e em um intervalo de tempo bastante curto. Pode isso? "Pode. Não há nada contrário do ponto de vista formal. Mas não deve", afirma Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford Brasil e diretor do Centro de Estudos Automotivos (CEA).
Órgãos ligados à defesa do consumidor concordam que a atitude seja estranha."Se eles venderam em fevereiro o modelo como 2013 e não avisaram sobre mudança nenhuma, nós temos de fazer uma análise da informação dada ao consumidor e da publicidade para nos pronunciarmos", afirma Maria Inês Dolci, coordenadora da PROTESTE. "Se não mantiver a fabricação do modelo antigo, há indícios de oferta enganosa. Para comprovar isso, seria necessária uma averiguação", relata o Procon-SP através de sua assessoria de imprensa.
Para Luiz Carlos Mello, quem vai cobrar o preço por esse posicionamento da montadora é o cliente. "A VW vai causar insatisfação, deixar no consumidor uma sensação de desconforto e clara incompreensão. Mas ela, certamente, pesou prós e contras da estratégia de marketing. Deve ter avaliado a necessidade de mercado e de proteção do segmento e feito isso para tentar reforçar sua competitividade diante da concorrência", resume Luiz. O consultor garante que a VW poderia, até, ter lançado os novos Gol e Voyage como linha 2014. Mas não mudaria nada sob o ponto de vista da decepção dos consumidores. "Se a diferença de preço entre os modelos fosse razoável, a compra do '2013 1' poderia ser considerada vantajosa. Mas como não é, o proprietário vai perder valor residual", diz.
Presente de grego
No dia 24 de junho, o técnico em edificações Ricardo do Vale comprou um Voyage 1.0 Trend 2012/ 2013 na concessionária Volkswagen Real, em Itaguaí, no Rio de Janeiro. Era o seu presente de aniversário - naquele dia, ele comemorava 31 anos. Antes de fechar negócio, ele ainda perguntou sobre uma mudança no modelo. Mas disseram que não haveria novidades tão cedo. "Achei uma tremenda sacanagem da montadora fazer isso. Quiseram 'zerar' o pátio aproveitando a queda do IPI e a agora soltar o modelo novo quando o imposto subir novamente", declara.
O desconto do IPI só termina em 31 de agosto (se não for prorrogado), quando os novos Gol e Voyage já devem estar disponíveis nas lojas. Mas dá para entender a reclamação de Ricardo. "Se eu soubesse que o carro mudaria, certamente teria esperado, para não arcar com a desvalorização", fala.
Um jeito de evitar esses transtornos é ficar sempre atento às movimentações do mercado, sugere o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive. "Porque quem acompanha o setor, já sabia que o carro ia mudar. E poderia até ter aproveitado para negociar melhor o anterior. Porque o novo, certamente, não será vendido com descontos, nem nas mesmas condições", afirma. Ele também indica que o consumidor tente ficar cerca de três anos com o "Gol 2013 1": "A partir daí, o carro cairá na desvalorização normal do mercado e passará a valer a manutenção, o estado de conservação dele".
Fonte: AutoEsporte
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